A cultura de que buscar aprimorar sua beleza e melhorar a autoestima eram preocupações que cercavam apenas o universo feminino já caiu por terra, uma pesquisa divulgada pelo portal R7 realizada pela Allergan, empresa do segmento farmacêutico, em conjunto com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e a Sociedade Brasileira de Dermatologia, apontou que 82,5% dos homens do Brasil têm desejo de fazer algum procedimento estético no rosto, e desses 48% já utilizou cremes anti-idade e 25% usou ou usa toxina botulínica.
De forma mais concreta, em levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) constatou-se que a parcela masculina no total de pacientes submetidos a procedimentos na área de cirurgia plástica deu um salto de modestos 5% para pouco mais de 30%, ou seja, no ano de 2023 cerca de 1/3 das cirurgias plásticas foram realizadas em pacientes do sexo masculino, isso representa um aumento significativo de 72 mil para 276 mil procedimentos anualmente, quando comparado ao ano de 2022.
Quais são as cirurgias plásticas mais procuradas pelos homens?
As principais intervenções estéticas realizadas por eles são:
- Tratamento de GINECOMASTIA: Redução da mama masculina;
- Lipoaspiração;
- Na sequência as cirurgias que compõe a harmonia facial encerram este grupo, sendo a blefaroplastia, cirurgia das pálpebras, a rinoplastia, cirurgia do nariz e a otoplastia cirurgia para tratamento da orelha proeminente.
Dentre os procedimentos citados, daremos espaço ao tratamento da Ginecomastia, por ser ainda uma condição pouco explorada na literatura não especializada, de forma que possamos transmitir informações necessárias para orientar pacientes sobre essa condição e alertar para necessidade de escolher um profissional que domine todos os nuances de seu tratamento.
Sobre a Ginecomastia…
Apesar de não ser tão mencionada a questão, é importante lembrar que homens também possuem mamas, sendo essas de menores proporções em comparação a mama feminina, e como nas mulheres, a mama masculina é formada por tecido glandular e tecido gorduroso, além do conjunto aréola-papila, que no caso masculino assume formato quase que elíptico, e dimensões também inferiores, medindo de 2,8-3,2 cm em comparação ao 4,5-5,0 cm da aréola feminina, que também está em uma posição superior e ao longo da linha média da mama, já no homem o conjunto aréola-papila dista cerca de 3,5 cm do sulco inframamário, posicionando ligeiramente lateral.
Partindo desses conceitos, pode-se dizer que Ginecomastia é o desenvolvimento anormal de mamas em homens decorrente de um desequilíbrio hormonal, com preponderância de hormônios femininos em relação aos masculinos. Quando o aumento mamário ocorre do componente glandular, chamamos de Ginecomastia, a autores que designam como “Ginecomastia verdadeira”, já se o aumento mamário for do componente gorduroso, é chamada “Lipomastia” ou “Pseudo-ginecomastia”.
São muitas as causas da ginecomastia e elas podem variar conforme a idade do paciente, podemos designar didaticamente, para um melhor entendimento, a ginecomastia em três classes ou condições:
• Ginecomastia fisiológica: Assim chamada pois não há uma causa propriamente dita para o aumento da mama, ocorre em três fases da vida do homem, no recém-nascido se dá pela grande quantidade de hormônios femininos (estrógenos) que passaram da mãe para o bebê no final da gestação, na adolescência onde os testículos ainda são imaturos e há extrema oscilação nos níveis hormonais do organismo, os quais podem provocar a ginecomastia e por fim no idoso que apresenta queda nos níveis de testosterona e um aumento nos níveis da estrógenos, principalmente após os 55 anos de idade.
• Ginecomastia idiopática: Mais de 60% de todos os casos de Ginecomastia tem causa idiopática. Derivada do grego idios (pessoal, próprio) + patheia (sofrimento), uma causa idiopática significa ter origem desconhecida ou de surgimento espontâneo. Apesar de haver a desproporção hormonal, com predomínio de hormônios femininos, não se sabe o que leva a esta condição nesse grupo de pacientes, como o tecido mamário reponde a presença desses hormônios, a mama acaba por aumentar, porém não se identifica uma causa específica.
• Ginecomastia Patológica: A ginecomastia é chamada de patológica quando há um fator causador conhecido, como: doenças sistêmicas de base, tumores, uso de medicamentos específicos ou drogas que como efeitos colaterais provocam um desarranjo hormonal que culminam com o desenvolvimento anormal de mamas nos homens, dentre condições frequentemente vistas esta o uso dos esteroides anabolizantes, nos chamados “ciclos de hipertrofia” tão difundidos e banalizados atualmente. São citadas diversas condições, além do uso de esteroides anabolizantes, que podem gerar no homem o desequilíbrio hormonal capaz de promover a Ginecomastia, dentre elas, destacam-se:
- Obesidade;
- Hipertireoidismo;
- Cirrose hepática;
- Insuficiencia renal;
- Tumores de testículo;
- Tumores extra testiculares como os pulmonares e hepáticos Hipogonadismo, ou seja, hipofuncionamento do testículo, que pode ser congênita como na Síndrome de Klinefelter ou adquirido após radioterapia ou trauma;
- Medicamentos como: prednisona, dexametasona, cimetidina, fenitoína, Digitalis e outros medicamentos para o coração, Antiandrogênios, como flutamida, ciproterona e espironolactona, Ansiolíticos e antidepressivos, como diazepam e antidepressivos tricíclicos além de drogas como a maconha e seus derivados.
Obs: A ginecomastia induzida por esteroides anabolizantes ocorre essencialmente devido ao grande desequilíbrio hormonal causado por essas drogas. Alguns anabolizantes que realmente correspondem a um tipo de hormônio masculino (testosterona, nandrolona, dianabol, boldenona) podem causar efeito rebote. Isso acontece pois o corpo não compreende esse aumento excessivo de hormônios masculinos e na tentativa de manter o corpo em ordem, acaba por converter hormônio masculino em feminino. Porém, esse tipo de hormônio feminino causa alterações no corpo, como a progesterona, que por sua vez pode causar aumento da glândula mamária nos homens.
Sobre a primeira consulta…
Quando recebo paciente no meu consultório, com queixa de aumento mamário, este muitas vezes vem munido das chamadas “verdades absolutas” provenientes de amigos, parentes ou mesmo da internet. Busco ouvi-lo cautelosamente, pois, a história da patologia e seu passado médico, sem falar nos hábitos de vida, serão pontos fundamentais para construção da minha hipótese diagnostica. Ao final realizo o exame físico das mamas e axilas, onde busco avaliar volume mamário, componente gorduroso e glandular, além de presença de flacidez de pele, dessa forma procedo a classificação do padrão de Ginecomastia. A classificação da Ginecomastia é baseada em 3 graus, de acordo com a classificação de Simon:
- Grau I: pequeno aumento mamário sem flacidez de pele
- Grau II: subtipo A: moderado aumento mamário sem flacidez de pele; Subtipo B: moderado aumento mamário com flacidez de pele
- Grau III: grande aumento mamário com flacidez de pele.
Na sequência, solicitamos exames de imagem visando confirmar o diagnóstico, assim como e exames laboratoriais, os quais dependerão da história de cada paciente, cuja finalidade é definir a causa base da Ginecomastia.
• Exames complementares: Solicito geralmente dosagem de de dois hormônios LH e Beta-HCG, sendo que o LH atuara como um dos parâmetros para avaliar a função dos testículos, os quais produzem os hormônios masculinos, que devem manter proporção superior em relação aos ditos femininos, já o Beta-HCG, tem função similar a do LH sendo produzido por alguns tipos de tumores. E assim, de acordo com o que colhi na história médica do paciente outros exames como os da função tireoidiana, marcadores hepáticos e mensuração dos níveis de testosterona podem ser solicitados.
IMPORTANTE:
Pacientes com obesidade tendem a produzir uma quantidade extra de hormônios femininos através do tecido gorduroso, dando maior chance de ginecomastia, além disso o próprio deposito de gordura na região mamaria levará ao aumento da mama, essas condições podem inclusive vir associadas, e devem ser ponderadas quando o paciente portador de aumento mamário estiver acima do peso.
• Exames de imagem: O exame de imagem dito padrão-ouro para avaliar a estrutura da mama e analisar massa ou formações expansivas, como no caso da ginecomastia, seria a Mamografia, exame que se vale da radiação, e assim identifica melhor estruturas solidas, contudo, pelo volume mamário masculino, que geralmente é modesto e pela necessidade de distinguir tecido glandular de gordura, a Ultrassonografia é melhor indicada, por fazer uma melhor analise do tecido adiposo, podendo avaliar com certa precisão se há um aumento do tecido mamário, que como disse geralmente esta restrito a região sob a aréola.
IMPORTANTE:
Vale lembrar que NÃO há relação direta entre o adenocarcinoma da mama, o câncer de mama, e a ginecomastia, apesar de que homens podem sim ser acometidos por câncer de mama, em uma proporção de cerca de 1%, conforme dados do INCA.
E sobre o tratamento…
Nos casos iniciais, com menos de 01 ano de evolução, o tratamento da Ginecomastia pode ser clínico, através de medicamentos, principalmente quando a condição é dolorosa, que demanda uso de analgésicos, ou mesmo quando provoca constrangimentos de ordem psicossocial como por exemplo evitar de tirar camiseta em público. Deve ser instituído o mais rápido possível, pois a Ginecomastia com mais de 1 ano e meio de progressão não responderá bem ao uso de medicamentos, fazendo-se necessário a correção cirúrgica.
Dentre os medicamentos disponíveis atualmente, o Tamoxifeno é a droga de escolha para o tratamento da ginecomastia idiopática, que corresponde a 60% dos casos, com menos de 12 meses de história, alguns estudos demonstram que este medicamento consegue resolver quase 100% dos casos de Ginecomastia na adolescência e quase 80% dos casos quando todas as faixas etárias são analisadas, mas para essa efetividade o tratamento deve ser iniciado o mais precoce possível, lembrando que quando houver uma causa identificada, o tratamento baseia-se no tratamento da causa base.
E sobre a cirurgia…
Após diagnosticada Ginecomastia, na impossibilidade, insucesso ou inadequação de um tratamento clínico, a cirurgia deve ser indicada, sendo que para realizar o planejamento cirúrgico identificamos o Grau da Ginecomastia pela classificação de Simon deve orientar a escolha da técnica cirúrgica, e assim indicamos o procedimento que melhor se adequa a cada paciente, buscando resultados naturais e cicatrizes menores e mais camufladas.
IMPORTANTE:
Durante a avalição inicial é vital definir se a Ginecomastia é “verdadeira”, ou seja, aumento mamário por aumento do tecido glandular, ou trata-se de um caso de Pseudo-ginecomastia, no qual o aumento volumétrico dá-se pelo aumento de tecido gorduroso, condição essa atrelada a obesidade, e cujo tratamento está associado a lipoaspiração, e que na nossa prática associamos ainda o Laser de Diodo para realizar a retração da pele.
Ressalto que associamos lipoaspiração em todas as abordagens para tratamento de Ginecomastia, esse ponto que já foi motivo de debate há anos atrás, vem sendo cada vez mais consensual entre especialistas, tanto porque trata o excedente gorduroso da mama, como a sucção da gordura facilitará o desprendimento do tecido glandular que geralmente está fortemente aderido ao musculo peitoral.
TOP TREND
Em conexão as tendências atuais, emprego os preceitos de LIPO HD na lipoaspiração associada ao tratamento da Ginecomastia, de modo que sigo a demarcação descrita por Hoyos, 2016, e em casos selecionados é possível inclusive realizar um modesto enxerto de gordura no plano submuscular do peitoral, o que fornecerá um contorno torácico mais interessante, além disso fazemos uso de Laser de Diodo durante a cirurgia para melhorar a retração da pele e otimizar mais ainda os resultados.
E a recuperação…
O pós-operatório segue nosso protocolo habitual, ainda na sala de cirurgia, imediatamente após o procedimento, a equipe de fisioterapia realiza o primeiro atendimento para inserção de Knesio-tapping, curativos estéreis, drenos suctores. No seguimento realizamos práticas para gerenciamento de cicatriz, com curativos específicos, trocados a cada 05 dias, até a 3ª semana, quando então iniciamos aplicação dos produtos da Linha PosOp da #NaPele, de modo que a cicatrizes finais são geralmente bastante discretas e camufladas.
O paciente inicialmente faz uso de uma faixa de cerca de 10 cm de largura, faixa essa que é ajustável, para que a compressão seja proporcional a necessidade, após a 3ª semana substituímos este instrumento por uma malha de compressão na forma de uma camisa regata em formato de “segunda pele”, a qual é mantida até o terceiro mês com desmame gradua.
Fazemos uso de drenos suctores, e utilizamos preceitos da técnica americana de recuperação rápida, “fast track recovrey’”, na qual se prega uma mobilização precoce de tecidos, assim sendo estimulamos elevar os braços até onde a dor permitir, assim o paciente ganha mais independência podendo cuidar de sua higiene, contribuindo para um restabelecimento mais fisiológico de suas funções.