Cirurgia do Lipedema

E quando falamos sobre “hot topics”, “Top Trend”, termos alusivos a temas que dominam o interesse nas redes, não há nada supere que o LIPEDEMA. A busca por lipedema cresceu, em média, 3.900% de 2019 a 2023, segundo dados do Google Trends, este cenário está embasado em uma realidade na qual uma grande quantidade de pacientes, em sua maioria mulheres, que até pouco tendo estavam resignadas a insatisfação com seu contorno corporal, sem qualquer perspectiva de tratamento para melhora da de sua autoimagem, e agora com a efervescência científica em torno do Lipedema, veem possibilidades de um tratamento.

Nos consultórios de cirurgia plástica, o que hoje, já sabemos ser LIPEDEMA, foi permeou as queixas das pacientes, contudo havia poucas opções no arsenal científico, seja para firmar um diagnóstico preciso assim como propor um tratamento adequado.

IMPORTANTE!!!!

É válido ressaltar que apesar do interesse midiático pelo tema, ainda temos poucos profissionais dedicando-se ao estudo e aperfeiçoamento do manejo do Lipedema, de modo que literatura especializada ainda carece de estudos mais sólidos, de modo que cada paciente merece ser minunciosamente avaliada para que se obtenha um plano de cuidados adequado, minimizando complicações que poderão acontecer.

Mas afinal, o que é o Lipedema?

O Lipedema é uma doença muito comum que acomete cerca de 10% da população feminina do mundo, ao menos 5 milhões de brasileiras apresentam os sintomas, segundo dados do Instituto Lipedema Brasil, mas poucas sabem que se trata de uma doença, já que culturalmente essas pacientes eram classificadas como portadoras de obesidade, o que motivou um desinteresse pelo Lipedema, conjuntura essa, modificada a partir do entendimento da condição, que é distinta da obesidade, apesar de poder vir em conjunto.

O Lipedema corresponde a uma condição caracterizada pelo acúmulo desproporcional de gordura nos membros inferiores e cintura pélvica, quando comparado ao tronco, podendo acometer também os membros superiores. Essa condição é uma disfunção do metabolismo das gorduras, que promove o depósito de gorduras em locais específicos, desencadeando um processo inflamatório como uma reposta do corpo as disfunções orgânicas causadas pela gordura acumulada, e que por fim, ao se intensificar causará sinais e sintomas típicos de uma inflação como dor. Vala salientar que a inflamação é uma resposta orgânica a qualquer disfunção estrutural, ela surge na tentativa de reparar as sequelas do dano primário, no caso do Lipedema a gordura em excesso poderá afetar a pele, o sistema circulatório entre outros.

A origem do Lipedema tem origem genética, e que fatores hormonais aceleram a progressão da condição: uso de anticoncepcionais, tratamentos para engravidar, gestação e mesmo a menopausa. Também por esse motivo, é muito incomum que homens apresentem Lipedema, mas não é impossível.

Na Alemanha, Espanha e até Estados Unidos a conscientização sobre o Lipedema já está mais avançada, assim como os tratamentos disponíveis.

No Brasil tem se tornado mais conhecida, principalmente após a inclusão da doença no CID11 (CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS) no início de 2022, mas o caminho ainda é longo no reconhecimento e oferta de tratamentos dessa patologia por aqui, visto que há ainda uma certa fragmentação na assistência, que precisa ser ampla e multiprofissional, estando o cirurgião plástico contemporâneo obrigado a entender o manejo da patologia, que por um certo período ficou restrita aos cuidados fornecidos por cirurgiões vasculares.

Vale lembrar, que como dito anteriormente, o sucesso terapêutico, como mostra a experiencia de outras nações está ligado ao cuidado multiprofissional: Endocrinologistas, Nutricionistas, Nutrólogos, Preparados Físicos e Cirurgiões compõe o time assistencial. E ainda, ressalto que Angiologistas podem e devem participar da equipe de cuidados, pois o Lipedema, como uma condição progressiva associa-se em muitos casos ao Linfedema, ou mesmo a Doença Venosa Periférica, que demanda abordagem da Veia Safena Magnan pelo Cirurgião Vascular, ficando a cargo do Cirurgião Plástico a abordagem dos depósitos gordurosos através de técnicas modernas de Vibrlipoaspiração laser assistida.

Sobre o diagnóstico …

Pernas gordas, é o formato do seu corpo, as pernas da sua família são assim, isto é celulite, obesidade, linfedema, varizes, sinto como se tivesse dois corpos em um (cintura fina e pernas grossas)”.

Essa fala equivocada foi defendida por muito tempo, hoje sabemos que o Lipedema não é algo intratável, porém, o diagnostico precoce e preciso é o fator primordial para o sucesso terapêutico.
Como não há marcadores laboratoriais específicos para o lipedema, ou seja, não há um exame que diagnostique a condição precisamente, o diagnóstico clínico é o objetivo: definido pela desproporção simétrica do acúmulo de gordura nas extremidades inferiores acompanhada por queixas de edema ortostático, o inchaço que piora ao longo do dia, frequentemente acompanhada por dor. Os pés são poupados desse aumento de tamanho exceto no estágio avançado de lipolinfedema, no qual o edema do pé ocorre secundariamente à insuficiência linfática inexistente em estágios anteriores. O edema que poupa os pés é sinal importante para distinguir o lipedema da obesidade comum e linfedema.

IMPORTANTE!!!!

Um questionário específico para o lipedema, elaborado na Alemanha e traduzido para língua portuguesa, visa ajudar no nível de suspeição, mediante um quadro que sugere lipedema, de modo que pode ser um instrumento interessante, principalmente quando o profissional ainda tem pouca experiencia no tema.

  • Como saber se tenho lipedema?
  • Você sente dores, peso e apresenta hematomas frequentes?
  • Quando perde peso, emagrece no abdome, mas não nas pernas?
  • Sente nódulos de gordura na coxa ou braços e a pele mais fria?
  • Sentiu piora deste quadro após puberdade, uso de hormônios, gestação ou menopausa?
  • Alguma mulher da sua família apresenta as mesmas características?

A confirmação do diagnóstico do Lipedema depende de uma avaliação com médico especialista, porém se você respondeu “sim” para a maior parte destas perguntas, vale a pena investigar, PROCURE um médico especializado.

Os tipos de Lipedema

Apesar de entendida como prioritariamente acometendo os membros inferiores, a doença pode acometer somente braços e o quadril. Existe uma classificação para entender melhor cada tipo de Lipedema e ela é dividida da seguinte forma, de acordo com a região do corpo acometida:

  • Tipo I: Acomete nádegas e quadril.
  • Tipo II: A gordura se distribui nos joelhos e coxas.
  • Tipo III: A gordura se forma em coxas, joelhos e panturrilhas.
  • Tipo IV: O lipedema atinge os braços.
  • Tipo V: A gordura se acumula somente nas pernas, abaixo do joelho.

De acordo com a progressão da patologia, estabeleceu-se uma classificação por estágios, que mensura o nível de comprometimento orgânico. Com os membros apresentando uma maior dificuldade no emagrecimento em relação ao corpo, a condição passa a progredir, pode levar a prejuízos na pele, diminuição do fluxo linfático, que é a fase mais avançada da doença, onde além de Lipedema a paciente pode apresentar Linfedema, que é a obstrução dos vasos linfáticos.

  • Estágio I – Superfície da pele de aparência normal com subcutâneo em forma de nódulos palpáveis. Drenagens e alimentação regrada podem aliviar alguns dos sintomas.
  • Estágio II – Apresenta pele irregular e endurecida, com acúmulo de gordura em forma de nódulos. Em alguns casos apresentam dores. Hematomas são frequentes.
  • Estágio III – Grande acúmulo de gordura, com deformidades da pele. Dores e hematomas são frequentes.
  • Estágio IV – Grande deformidade de pele e gordura associado a lesão do sistema linfático, causando edema nos pés (conhecido como lipo-linfedema). Hematomas frequentes. Dores fortes na maioria dos casos. Dificuldade de deambular.

O diagnóstico precoce de um médico especialista e o início de tratamento adequado são extremamente importantes para evitar uma progressão da doença e todas as complicações que podem vir.

E o tratamento…

O tratamento clínico envolve uma dieta anti-inflamatória baseada em reduzir o consumo de alimentos processados, leite e derivados, álcool, carne vermelha e açúcar. Importante procurar a orientação de um nutricionista que entenda desta patologia.

Outro aspecto importante do tratamento é a atividade física. Treinos que aumentam a frequência cardíaca ajudam na queima de gordura. Como o lipedema muitas vezes está associado à frouxidão ligamentar dos joelhos e tornozelos, uma boa opção são exercícios de baixo impacto, por exemplo, aquáticos.

Apesar do Lipedema não ser uma doença do sistema linfático, o uso de meia elástica compressiva e drenagens linfáticas aliviam o inchaço ocasionado pela reação inflamatória da gordura, de modo que há uma melhora sintomatológica.

Apesar de bem estabelecida, a abordagem clínica tem limitações, e segundo o consenso americano de Lipedema publicado em 2021, a única técnica capaz de remover as células doentes de gordura é a cirurgia.

O tratamento cirúrgico se baseia em Lipoaspiração tumescente com preservação dos vasos linfáticos, associada ao uso de tecnologias para minimizar a flacidez através de um estímulo a produção de colágeno e retração da pele, principalmente nos casos mais avançados, sendo que em alguns casos mais extremos, técnicas de remoção de pele são descritas na literatura.

Na nossa prática realizamos a técnica de Lipoaspiração tumescente através de Vibrolipoaspiração com VibroFit, o qual facilita a remoção de gordura, promovendo maior sucção com menor dano aos tecidos, associamos no mesmo momento cirúrgico tecnologias que aumentam a produção do colágeno melhorando o tônus da pele; minha escolha é o Laser de Diodo, através de uma fibra ótica, o chamado EndoLaser.

Nos casos mais avançados de lipedema (estágios 3 e 4) existe o comprometimento da pele, devido ao grande volume de gordura e diminuição da vascularização da derme. Por isso, estes casos exigem a remoção cirúrgica do seu excesso através de incisões na coxa e nos braços, são casos cada vez menos frequentes, visto que o avanço no tratamento clínico e maior acesso ao tratamento cirúrgico tem evitado a progressão da patologia aos níveis extremos.

E o Pós-operatório…

O pós-operatório adequado é essencial para o sucesso do procedimento, ele envolve atendimento de enfermagem e fisioterapia especializados, acredito ser este ponto o que ainda demanda maior avanço, visto que estudos bem fundamentados e aprimoramento são necessários para garantir um resultado mais otimizado.

Na nossa prática, utilizamos a adaptação do Protocolo Compress, no qual aplicamos bandagens elásticas, bandagem em malha, cobertura em EVA além de bermudas e calcas com malhas compressivas, ainda no pós-operatório imediato, com atenção especial ao retomo venoso, e para tal fazemos uso de tornozeleiras e meias especificas, sem esquecer da profilaxia para tromboembolismo., utilizamos drenos suctores em posições estratégicas.

Após três até cinco dias, o protocolo progredi com início da manipulação tecidual, e mudança progressiva das malhas e órteses de compressão, inicialmente mais compressivos, e progressivamente mais elásticos, com uso de meias-calças completas, por um período de três meses. Indico também suplementação vitamínica, e uso de produtos tópicos e orais da Linha VASC da #NaPele, com efeito, venotônico, vasodilatador e cicatrizante.